Você sente um mal estar, dor nas costas, febre ou queda de cabelo e busca um profissional da saúde.
Renomeadas sintomas, as sensações ordinárias serão enxergadas pelo prisma de um diagnóstico, a partir dele o tratamento é instituído.
Torcemos pela cura, rogamos que seja rápida.

Sem o diagnóstico, o sofrimento não encontra a cura. Para tratar é preciso entender.
Um degrau indispensável para conseguir alívio. Como uma bússola, ele guia os passos seguintes no processo de cuidado.
Na psiquiatria, a busca pelo diagnóstico pode se tornar um drama à parte e nenhum profissional da saúde mental se apressa na conclusão diagnóstica.
O primeiro motivo para isso é o diálogo entre o social e o biológico, a maneira de performar a mesma doença muda conforme o contexto.
Déficits de atenção serão percebidos de forma diferente por um advogado e uma dançarina de balé.

Variações de humor de uma professora de catequese, não ocorrem da mesma forma que a de uma personal trainer.
Captar nuances, entender o contexto, ouvir a história é o que afina o olhar para aquele indivíduo e atribui significado médico a comportamentos e estados de espírito.
Sintonizamos a frequência genérica dos manuais diagnósticos ao ritmo de vida de quem sofre.
Também é desafiador quantificar.
Hipertensão arterial é definida por um número exato em milímetros de mercúrio, qual unidade de medida seria capaz de determinar o valor da tristeza? e da ansiedade?
Normatizar métricas universais transformaria parâmetros em paradigmas.
A intensidade do sofrimento, ou seja, a experiência subjetiva, legitima a queixa e nada mais.
Não obstante seu caráter subjetivo, existem alterações bioquímicas, mutações genéticas, enzimas que funcionam demais e neurotransmissores que existem de menos.
Sobre essa base neurológica atuam as intervenções médicas.
A psicoterapia, guiada pela psicologia, atua nas repercussões interpessoais, conflitos internos, e na mudança de padrões de comportamento e pensamento.
O diagnóstico, portanto, não consegue existir como algo pontual, uma fotografia capturada em uma consulta, ele é um filme, diversas imagens observadas no período de meses.
No decorrer desse enredo, o transtorno de ansiedade cede lugar a uma depressão após o parto do primeiro filho, que pode ser a primeira manifestação de um transtorno bipolar piorado pelo ritmo de trabalho.
Ter um nome, um código, para o que sente pode reconfortar.
No entanto, encarar uma doença incurável, que necessita de medicação por toda a vida, pode assustar.
Uma faca de dois gumes, pode libertar e, se mal compreendida, aprisionar.

Por isso, minha proposta aos que trazem o sofrimento ao consultório, é que confie no profissional, nós vamos buscar o diagnóstico com você.
Uma visão acolhedora, longitudinal e especializada sobre suas angústias trará bons frutos.
E finalmente, não se apegue ao diagnóstico, se apegue à melhora.