Se não fizer bem, mal não fazer. E com essa certeza é iniciado o uso desnecessário de mais um suplemento vitamínico.
O apelo é poderoso e remete a conceitos arraigados desde a infância. Vitamina sempre foi algo bom e sua mãe pedia que você engolisse todas as colheradas de verduras vitaminadas.

O crescimento do mercado de vitaminas industrializadas é constante nos últimos anos e, sem dúvida, foi suplementado pela atual pandemia, que induziu uma corrida aos botes e consumo desenfreado de quaisquer esperança encapsulada que estivessem ao alcance.
O efeito psicológico de ingerir uma dose diária de saúde é o que vende, sensação de um corpo saudável e dever cumprido: “hoje eu me cuidei”.
As promessas do uso de vitaminas para melhoria de qualidade de vida e prevenção de doenças são diversas, vão de mais inteligência, retardar o envelhecimento, emagrecimento a prevenir doenças
Diversas pesquisas testaram essas afirmações e a conclusão parece ser uníssona: A maioria dos suplementos não previnem doenças crônicas ou morte, seu uso não é justificado e eles devem ser evitados.

Suplementos são tratamento para quem tem deficiência de vitaminas.
A Força Tarefa de Serviços Preventivos americana conduziu uma enorme análise com mais de 400.000 pessoas, sem constatar qualquer benefício do consumo de multivitamínicos na prevenção de doenças cardiovasculares ou câncer.
Em outro estudo, quase 6 mil médicos foram observados e tiveram sua inteligência e memória avaliada por 12 anos, uma parte usou multivitamínicos, outros mantiveram sua alimentação normal, resultado: nenhuma diferença cognitiva entre os dois grupos.
Em 2013 a Revista da Associação Médica Americana publicou um ensaio sobre os efeitos do uso de nutrientes antioxidantes e surpreendentemente descobriu aumento de mortalidade nos que consumiam Vitamina E, Vitamina A e betacaroteno sem necessidade.
Algumas vitaminas são chamadas hidrossolúveis, elas se dissolvem em água e são excretadas na urina quando estão em excesso, como a Vitamina C.
O consumo da “vitamina da imunidade” em grandes quantidades pode não te proteger de doenças, mas garante um xixi nobre, mais caro e nutrido.

Comprimidos devem ser usados para quem tem um diagnóstico, uma deficiência, um problema que justifique se expor ao risco e ao custo de usa-los.
Ao que parece, o grande divisor de águas em prevenção de mortalidade e doenças é o acesso à comida, à lazer, exercícios físicos e aos recursos que permitem pagar por tudo isso. É uma pena pagar por pílulas mágicas que não te ajudam em nada.
Suspeite de tudo que promete benefícios sem riscos. Bem estar não pode ser encapsulado, gaste seu dinheiro com o que te faz sorrir e o nutra sua saúde mental.
O que não faz bem, pode sim te fazer mal.
Dr. Manoel Vicente de Barros – Psiquiatra em Cuiabá